Ciclo do Guerreiro



Por favor...

e quando as armas se calaram

e os corpos se contaram,

jazias amigo, curvado

entre a vida e o sol posto.

Entranhas abertas,

gemido forte,

olhar vidrado

fixado na morte.

Máscara de sangue.

E foi então,

todo em tremor,

num ultimo estertor

abrindo a mão,

(esgar de dor),

me pediste;

por favor…

entrega isto

ao meu Amor.

(e de mansinho, lá te foste!!!)

(azor)

Prece

Mãe,

deixa que deite

minha cabeça em teu regaço,

que sinta teu colo como um pedaço

do tempo que não vivi

e do qual sempre senti

a minha presença em ti

e em mim, tanta vez a tua ausência.

Mãe,

deixa que lembre

o tempo em que me ensinavas

no canto da cozinha nua

sem mais nada

mas tão aconchegada,

as coisas que comigo falavas

as lições que sempre me davas

e as preces que muito rezavas.

Mãe,

deixa que sinta

a tua ausência feita presença,

o teu exemplo feito esperança,

a tua vida feita lembrança

na doçura do teu rosto,

qual imagem do sol posto

na calma do entardecer

da vida, de quem tão bem soube anoitecer.

Mãe,

agora que já partiste

desta vida que tanto amavas,

levando contigo a bondade

deixando comigo a saudade

faz com que esta prece, sendo minha

termine como tu também.

Seja feita a Tua vontade,

por todo o sempre,

Amén!!!

                            
                            (azor)

Ser Poeta

Ser poeta

é pertencer

e não ser

de lado nenhum.

Ser poeta

é ser

de todos os lados.

Ser poeta

é viver

e não estar

nem cá nem lá,

nem aqui nem acolá,

é ser nuvem.

Ser poeta

mesmo sendo nada,

é alma gémea de Deus.

Ser poeta

é amar

muito, muito

mais e mais

cada vez mais,

sempre,

tudo.

Ser poeta

é ter

no vazio

as mãos abertas

e prender as miragens

que o sonho arrasta.

Ser poeta

é ver

não importa com que olhos

os secretos desejos da alma.

Ser poeta

é desvendar,

é ler,

é aprender

nas entrelinhas da vida.

Ser poeta é não ter cor,

um poeta

é todas as cores,

é arco iris.

Ser poeta

é festa,

é alegria,

é sofrimento,

é sentimento.

Ser poeta

é estar par

na solidão,

porque um poeta

por mais impar que seja,

nunca está só!!!!

Azor

A Caixa da Música

Tomei de assalto
a caixa da música,
encontrei a ordem
toda em desordem.
Invoquei as musas,
percorri a escala
de fio a pavio.
Dedilhei o ré,
afinei o si,
troquei o dó
pelo tom de mi.
Separei as fusas
das colcheias e breves,
acertei o passo
ao ritmo do compasso.
Convenci as claves
de sol e de fá
que a trova do tempo
se toca em lá.
E quando ao fim do dia
enquadrei os tons,
senti tudo feito
e fiquei satisfeito,
libertei os sons
e rendi-me à melodia!

(azor)

Certezas?

Lembras-te pai,
pouco antes da tua viagem
me teres dito
tal como o poeta,
Será que Deus acaba aqui?

Lembras-te pai,
pouco antes da tua viagem
quando a noite já estava
próxima, muito próxima,
me teres dito
tal como o poeta,
Será que Deus só existe
no meu pensamento?

Não pai,
Deus não acaba aqui
porque eu, Pai,
vou continuar a pensá-Lo…
por Ti!!!

(azor)

deixei escrito...

deixei escrito
ao sabor do vento
o que o ventou levou,
e o que ficou...
foi a tinta que secou!!!

(azor)

Vi Tuas Mãos

Vi tuas mãos...
disformes de esperança
pelo trabalho precoce.

Vi tuas mãos...
pequenas, magras
calejadas pela injustiça.

Vi tuas mãos...
agarrar o pão
que o diabo amassou.

Vi tuas mãos...
a sangrar
em cima da minha mesa.

Vi tuas mãos...
feridas pela opressão
da economia global.

Vi tuas mãos...
Passarem desfeitas
pelo lado errado da vida.

Vi tuas mãos...
amargas de promessas
por uma vida melhor.

Vi tuas mãos...
mendigar auxílio
em português, inglês, francês.

Vi tuas mãos...
torcidas de dor
oprimidas pela força do destino.

Mas ainda hei-de ver tuas mãos
crescerem da injustiça
e tomarem as redeas do mundo!!!

(Azor)

Não à Guerra

O Pingo que faz Ping

Pingo,
ping
ping
e pinga
o pingo.
E cada pingo
que pinga,
faz ping
ping
ping.
E de cada
pinga
de pingo
nasce o pingo
que ao pingar
faz do pingo
ping
ping
o pingo
que a pinga
faz....
Deixa o pingo
pingar!!!

(Azor)

Teimosias...

Quiseram retalhar
minha alma,
mas ela...
teimosamente
intacta.

Quiseram moldar
meu pensamento,
mas eu...
teimosamente
resisti.

Quiseram comprar
minha consciência,
mas eu...
teimosamente
não vendi.

Quiseram de seda
meu corpo vestir,
mas eu...
teimosamente
nu.

Quiseram cavar
minha sepultura,
mas eu...
teimosamente
não morri.

porque eu...
teimosamente
tenho em mim,
a arte de ser assim!

(azor)

A Roda da Vida

A roda da vida
gira pr'a uns
sempre a direito,
cumprindo o sonho
feito a preceito
de quem não sonha
com nada de jeito.

Pr'a outros,
a roda da vida
gira quadrada,
parada
à mão estendida,
sempre dorida
sem nada alcançar,
a não ser o sonho
que nem sabem sonhar.

A roda da vida,
avança pr'a alguns
que nunca pensaram
em nada de muito,
na ilusão de um dia
poderem do sonho
trazer a alegria
da abundância doada.

Pr'a poucos,
a roda da vida
mesmo parada
na falsa partida,
e que à chegada
à mesa parida
sem dor nem nada,
dá-lhes tudo na vida,
de mão beijada.

(Azor)

Antecipação

Sentindo
que o tempo
resvala no vento
por mim adentro
e procura roubar
a arte que tenho
bem concreta
bem sentida
de amar a vida,
mesmo que tida
por curto momento
de primavera.
Sabendo que o fim
começa afinal
a dar sinal
de que tudo em mim
terá também
o destino de ser
desfeito em nada.
Vendo enfim,
que mesmo as estrelas
acabam não sendo,
quero ficar
senhor do momento
da minha viagem,
pois tenho p'ra mim
a derradeira solução...
aqui bem guardada
na palma da minha mão.

(Azor)

Meu (teu) Tabu

Frasquinho de perfume
meu tabu.

teu odor
meu sabor
a tabu.

preso
em redoma de vidro
teu tabu.

concentrado
em essência de escravidão
teu tabu.

liberto
pela manhã
teu tabu
em pele cansada
de servidão
meu tabu.

vidro quebrado
odor libertado
a tabu.

Frasquinho de perfume
sem tabu.

(Azor)